mercredi 7 novembre 2007

E o Foucault se foucault…



Hà muito tempo vinha me esquivando dos debates sobre o filme « Tropa de Elite », mas depois de tê-lo visto 3 vezes acho que posso dar algum pitaco . Aliàs, tenho que me desculpar aos queridos indigenas do Brasil, vcs, por ter simplesmente jogado um comentario sobre o filme em um post anterior sem ao menos comentà-lo com mais propriedade . O filme merece mais que uma nota de rodapé.







De fato é curioso que eu sinta vontade de escrever sobre ele daqui da terra da baguete, um pais aparentemente (e soh aparentemente) inofensivo, incapaz de ganhar uma guerra contra outro pais de peso. Sobre eles ainda pesa o destino de terem sido derrotados pelos alemães em 1870 e na Segunda Guerra Mundial, quando a tropa de elite do Hitler conquistou toda a terra da baguete e obrigou todos seus habitantes a comerem chucrute apimentado…



Nem imperialistas eles conseguem ser direito, coitados, e nao por dever moral (o que seria bom), mas por incopetencia bèlica… Lembremos da derrota militar em Dien Bien Phu, no Vietnã, em 1954, que levou a independencia daquele pais… logo retardada pelo amiguinho EUA, que quase sempre tem uma postura igual aquele gordo dono da bola que nunca deixava ninguem jogar futebol com sua pelota. Aparentemente Tio Sam nao queria que os vietnamitas brincassem com a bola dele – o mundo -. Não custa lembrar tb que a França foi derrotada pelos argelinos em 1962, ano da independencia da Argelia. Enfim, a terra da baguette é uma terra de derrotados, “losers”, como diriam os donos da bola.
Pois bem, é nesse espirito derrotista dos bagueteiros que me posiciono frente a este filme. Eh atraves dessa lente loser que venho dar o meu pitaco. Mas apesar de inutil, meu discurso tem grandes pretensões, de fato nao posso negà-las. Nao posso deixar de me ver um pouco parecido com o rato mestre do desenho Pink e Cérebro. Também quero conquistar o mundo, mas o problema eh que meu Pink é muito maior do que meu Cérebro. Se o cérebro esta preocupado com a necessidade de mudança, o pink jah està em outro plano. Se o cérebro quer conquistar o mundo para depois mudà-lo o pink quer outro cérebro jah. Se a fala do cérebro protesta contra as condiçoes desumanas a que nos indios somos submetidos, o pink jah olha nosso orgasmo diario de todo dia (e isso nao é um pleonasmo). Se o cérebro requisita o bàsico, o pink nao quer apenas um salario minimo de desejos. Nao quero soh uma sociedade mediocre se vendo retratada . Nao quero um cinema que me prenda pela correria em tensao sem corresponder com igual desejo aos meus afetos mais intimos, alias tripudiando deles, colocando tudo em « panos limpos », preto no branco. Enfim, meu cérebro é rosa (espero que isso nao ofenda meus amigos machos e/ou vermelhos). Quero inteiro e nao pela metade. Como jah dizia a canção :


"Você tem sede de quê?

Você tem fome de quê?(…)
A gente não quer só dinheiro,
A gente quer inteiro e não pela metade "
("Comida" - Titãs – LP « Jesus nao tem dentes no pais dos banguelas », de 1987)


Tendo jah dito de onde parto para expressar meu ponto de vista, ou seja meu cérebro rosado e loser, venho expressar minha opinião. E para aqueles que me acharem um « fanfarrão », tal qual as palavras do Capitão Nascimento, defenderei meu ponto de vista como vàlido (e ateh melhor), apesar de toda opiniao quase sempre naufragar na indiferença alheia. E para os malas que julgarem que tudo eh relativo, que todas as opiniões são validas, que tudo depende do referencial, lembrarei que, no trânsito, a preferência é de quem vem...

Então eu vou… e como jah disse o Capitão Nascimento : « Não vai subir ninguém, não vai subir ninguém ! Vai ficar todo mundo aih quietinho ! Nao vai subir ninguém ! »

Engraçado, jah ouvi essa frase em algum momento da minha infancia quando um dono de bola disse para também nao usar o velocipede dele…

Enfim, o filme eh muito bem feito, o Moura eh foda! Concordo com tudo isso! Ele eh dinamico, bem construido, bem montado, bem editado, especialmente para um leigo como eu. Mas nao quero falar do filme. Justamente porque nao gusto do tom através do qual o filme vem sendo discutido em nossa tribo. Tenho que confessar que vi o filme pela primeira vez através dos meandros da pirataria. Alias , muito antes do falatorio, uns 2 meses antes do filme ser lançado, estava eu no camelodromo do Saara no RJ. De repente vejo uma televisao passando justamente o trecho inicial do filme, a parte do “nao vai subir ninguém”. Vi que algumas figuras paravam e ficavam seduzidas pela dinamica do filme, pela beleza (sei lah se essa eh a palavra, com certeza nao) daquelas imagens. Um sujeito amigo do dono da banca disse algo como : « esse filme nao eh americano nao, eh brasileiro. Tem até o Olavo da novela ali, oh!”. Foi dificil reconhecer o ator, tamanha sua habilidade no video. Impressionante como um esmirrado nordestino, quase feio, parece forte e dominador como o Capitao Nascimento. Quando olhei melhor a minha volta percebi que quase todas as bancas do camelodromo passavam o msm filme. Tratava-se do hit do mercado parelelo. Evitei. Nao gostei do tom geral, um consenso unanime, de que o filme parecia “americano”. No dia seguinte, visitando o mesmo Saara, comprei-o, concretizando minha esquizofrenia politica em relaçao ao povo “winner”. Em casa percebi, ao lado da Raquel Mu, que o povão nao estava de todo errado.

O filme parece muito americano, no sentido de ser justiceiro, destemido, violento, ràpido, impactante, te prende do inicio ao fim, eh dinamico. Em alguns momentos parece ateh filme do Schwarzeneger ou do Rambo, especialmente naquela invasão na qual os policiais do BOPE matam um vapor! Eh... soh espero que daqui a alguns anos o Wagner Moura nao se candidate a governador do Estado do Rio!!!


Eh curioso como essa estética da velocidade de camera, takes e closes està se impondo na cinegrafia sobre violencia urbana no Brasil. A malha narrativa de "Tropa" me lembrou muito o “Cidade de Deus”: hà uma situaçao critica exposta num primeiro momento e depois o filme tenta explicar como se chegou a ela. Se visse tamanho plàgio, acho que o traficante de "Cité de Dieu" gritaria : "Nascimento é o caralho, meu nome é Zé Pequeno, PORRA!!!"

Um mês mais tarde, em meio a atividades de greve dos professores do ESTADO, resolvi passar o filme para meus alunos, ateh para que eu pudesse fazer experiencia antropologica com a visao deles. Constatei a primeira vista q quase todos jah tinham visto o filme. Varios mais de tres vezes, alguns 15, 18 vezes. Serio msm ! O filme era uma febre. Todos achavam foda, sem nenhuma critica aparente. Gostavam do filme, especialmente os mais jovens (lembro a vcs q dei aula a senhores de meia idade tb). Explicavam a seduçao do filme por ele retratar a verdade da favela, do morro, falando num tom como que a me dar uma aula sobre a realidade brasileira. Confesso que nao gosto desse tipo de discurso, ateh porque ele eh muito parecido com os discursos de minha classe social, tao demonstrados no filme. Mas meus pobres alunos se aproximaram do discurso da classe media na critica aos policiais. Culparam a policia por todos os males, incorporando o discuso de Nascimento, como se todos ali não estivéssemos cometendo um crime – o de ver um DVD pirata. Como se todos fossem corretissimos enquanto alunos do serviço publico, tao publico quando a policia.

O que desgostei muito no filme foi que ele tenta impor uma realidade de guerra civil, algo jah tão batido nos debates sobre violencia. Pelo jeito esse discurso serve tanto àqueles que lutam para acabar com ela, tanto quanto àqueles que fogem dela e àqueles que querem louvà-la… Penso que o filme contribui para o embrutecimento da sociedade brasileira que cada dia eh mais claro. Nao quero dizer com isso que o diretor e/ou o filme sao fascistas. Essa coisa de querer tachar obras de arte de isso ou aquilo eh que eh fascista! Nao vou dizer que alguém eh fascista e simplesmente dar de graça o filme,ou melhor uma obra de arte, qq que seja, a um partido ou grupo politico. Luto para que toda obra de arte tenha infinitos significados. Acho inclusive que o diretor quiz fazer uma critica ao BOPE e a violencia policial+hipocrisia da sociedade. O problema eh que ele nao tem sido visto assim, a despeito das opinioes do diretor e dos atores. (vejam a opiniao do W. Moura em: http://www.youtube.com/watch?v=UD_ERanDdBA)

Se o director tem defendido o filme contra acusaçoes de fascista, penso que o problema nao eh o filme em si, mas a propria leitura da sociedade que cada vez mais se aproxima de algumas caracteristicas fascistas. O consenso quase geral eh que a violencia eh necessaria para se acabar com a violencia. E aih sobram argumentos a favor de violencias contra « os que nao tem mais jeito » , como estupradores, assassinos em serie, narcotraficantes. Essa semana tive uma conversa aqui na Maison em que o tom pesou no sentido da violencia total. Vi mais uma vez se formando o embrutecimento da sociedade. E tome aquele discurso : « eu queria ver se fosse sua filha ! Estuprador, assassino, traficante tem q morrer. Eu mataria quem estrupasse minha filha». Confesso que acho esse discurso uma bravata : se assim todos fizessem o mundo jah teria acabado: um mataria o outro que matou o um que matou o outro... Tentei argumentar e defender (!) o legado da sociedade capitalista ( !) de crença na pedagogia como restaurador do homem e fui acusado de utopico. Vejam vcs, por defender um principio da Revoluçao Francesa, do iluminismo frances e do capitalismo, contra uma visao punitiva de cadeia fui visto como utopico. Cadeia tornou-se porão onde se esquece os prisioneiros, abandona-os a propria sorte ! Eh a volta dos porões dos castelos medievais, abandono de qualquer perspectiva de recuperação social. Vejam vocês, fui tachado de idealista por defender o capitalismo e das revoluções burguesas! A que ponto chegamos!!!
Acho que a Maison du Bresil eh um antro da contra-revoluçao francesa! Hahaha !!! Como diria o Capitao Nascimento, sou um « fanfarräo » !

Alias toda vez que falo Nascimento lembro do Didi Mocoh chamando Pelé de Nascimento naquele filme “Os trapalhoes e o rei do futebol” (1986), no qual Pelé vai pro gol e Didi bate escanteio e faz o gol de cabeça ao msm tempo, hahah. Se Pelé nunca foi capitao, seus suditos estao cada vez mais autoritarios e esperando uma soluçao, as vezes sedutora e justiceira, quase sempre lastreada no rancor.

Nao acho contudo que a leitura pela qual o filme tem sido visto tenha algo de contraditorio com a propria historia do filme. Pelo contrario. Algumas vezes vi o diretor e defensores do filme argumentando q o filme eh o ponto de vista de um policial, o que legitimaria a existencia de seu discurso autoritario, moralista, justiceiro, honesto, trabalhador, técnico (matar com eficiencia), torturador. De fato, muitos viram o filme assim, como uma nova visao de um policial sobre a questao da violencia : se « Cidade de Deus » trouxe a historia do traficante, « Cidade dos Homens » a visao dos favelados, « Tropa de Elite » traria a visao da policia. Eh um bom argumento. Mas nao acho que o filme traga apenas o ponto de vista do policial. E por isso ele foi tão bem recebido : ele expressa valores bastante legitimados na sociedade – a violencia como soluçao, o « vale-tudo » para punir exemplarmente os « puniveis », o moralismo contra « maconheiros » e classe média hipocrita.

Mas o filme nao traz somente a perspectiva do policial. Não. Eh um filme com narrador, mas nao em primeira pessoa. Ele eh um narrador onisciente, que sabe quase tudo ao seu redor. Nascimento conhece a fundo seus iniciados mesmo antes deles entrarem na corporaçao. Ele expressa sentimentos, faz considerações sobre afetos e sentimentos. E se o filme fala muito da policia, ele fala através de um viés muito moralista : para glorificar o BOPE, toda a policia é desmoralizada. Nao duvido que a PM seja corrupta, alias duvido que ela nao seja. Através de conversas com conhecidos policiais, ouvi jah palavras como « nao dah pra nao ser corrupto, se vc nao entrar no sistema eh apagado » . Pois é, a barra é pesada ! Eh diferente de ser um professor « chato » que quer trabalhar e o màximo que acontece com ele é ser mal visto pelo outros profs. No caso do policial o mau olhado é o tiro que mata. Por isso discordo do discurso q enxerga na policia dois lados: uma banda podre e uma boa. Acho que a realidade eh mais mediada que isso e que na atual conjuntura ser honesto eh ser honesto com a sua propria sobrevivencia.

Nao quero discutir segurança publica, quero discutir cinema. O filme, para além de expressar o ponto de vista de UM policial do BOPE, legitima posturas como a tortuta, o assassinato a sangue frio, o interregatorio sem direitos, morte sem julgamento, o rancor contra os « sujos » (policiais PMs, traficantes, maconheiros e cocainômanos…). O filme louva a saida moralista e poe tudo, nas palavras de Nascimento, « na conta do papa » .

Acho ateh que o diretor quiz fazer critica a esse autoritarismo da policia, mas o processo pelo qual o filme foi construido contribuiu para a legitimaçao dessa violencia. Confesso que nao fiquei assustado com as cenas de traficantes matando, atirando, torturando. Deles jah espero isso. E acho q devem ser punidos, claro. Mas o triste eh ver uma visao policialesca tao respaldada socialmente gozar nas falas de Nascimento sem nenhuma critica ou outro discurso capaz de questionà-lo, balançar terrenos, confundir concepçoes tao arraigadas.

O filme traz uma soluçao, que eh a soluçao do tudo ou nada, do “tiro na cara” tao falado da cena final. E ao longo do filme essa soluçao foi construida através de um processo que afasta todos aqueles intermediadores sociais. Nao à toa os que morrem de forma mais brutal sao os intermediadores, justamente aqueles entre a favela e o asfalto. De fato os personagens de classe média eram hipocritas, interesseiros, consumidores de drogas… Nascimento vê neles a culpa pelos seus proprios atos, tal como aparece numa das cenas mais chocantes na qual um « estudante » tem sua cara esfregada no sangue de um traficante morto . E debocha a todo momento dos estudantes que vao ao morro. Ele constroi uma realidade sem mediadores jah que no seu discurso « soh jovem com consciencia social nao percebe que guerra é guerra ». Ou seja, ou là ou cà ! Nâo hà meio termo, e quem se atrever a se posicionar nesse meio terah um destino tragico como dos dois jovens riquinhos.

Esse negocio de botar culpa nos ricos eh uma proposta bastante sedutora. Explica-se tudo pelas « elites destruidoras do potencial do pais ». Acho que isso mais dificulta do que explica nossa condiçao enquanto sociedade. Essa visao, apesar de ter seu eixo de verdade, contribui para a ideia de que somos uma « sociedade/cidade partida », coisa que o Brasil quase nunca foi. Em nossa tribo os valores agregadores, incorporadores, mescladores sempre foram muito mais fortes que os seus opostos. A visao da « cidade partida » parece mais um discurso politico do que uma contribuiçao para se analisar uma realidade, menos sedutora – é verdade -, mas extremamente rica e paradoxal.

E o filme nao contribui para essa riqueza que as vezes embaralha o olhar e torna as coisas menos definidas. Nascimento tem uma visão clara, visao que alias ele tenta reproduzir nos seus escohidos, que têm que ser tao bons qto ele. E a visão dele eh polarizada demais, ou pelo menos a historia do filme caminha neste sentido. Se no começo o filme mostra policia e traficantes negociando, no final essa situaçâo se torna uma situaçao insustentavel. E a visao de Nascimento é a visao que se impõe – repito – quase sem critica. Talvez nao fosse tão problematico se o filme se passasse na Dinamarca, onde a tortura –espero- seja repudiada. Mas no Brasil ele nao eh lido como repudio, mas apologia.


Lembro que enquanto comprava o DVD falsificado no camelodromo do Saara vi na banca ao lado uma copia perfeita em miniatura do Caveirao sendo vendida por 50 reais!!! E deve ter mta gente q compra! Esse eh o paradoxo de que falava! Um centro de produtos falsificados e ilegais vendendo uma copia (bonita tenho q confessar) de um veiculo assassino da policia do qual mtos daquele centro comercial jah devem ter sofrido. Soube tb que durante as filmagens foram roubadas armas cenograficas durante as filmagens na favela ! Veja vc ! E os produtores denunciaram o crime… à policia.
Aliàs o paradoxo maior é o filme sobre uma policia moralista ser um sucesso de vendas do mercado negro!!! Por essa realidade o Capitão Nascimento não esperava! Fica claro que o filme eh popular pois legitima um discurso social da violencia. Fica claro que a sociedade não quer deixar de ver o filme falsificado, mas hipocritamente quer uma policia moralista, autoritaria, torturadora pois assim ela corresponderia mais à propria sociedade: cada vez mais violenta, matadora, a procura de saidas individuais. E o filme não dà conta disso. Os principais hipocritas sao de classe média-alta. Se o problema fosse soh a hipocrisia da classe média-alta seria fàcil o trabalho do Capitão!!! Mas Nascimento foi engolido pela sociedade.

Tanto eh que o filme louva o discurso moralista do BOPE que q musica tema do filme é : « Tropa de elite osso duro de roer/ Pega um pega geral/ tambem vai pegar vc ! ». Tb vai me pegar ?????????? As pessoas acham essa musica legal – e ela eh sedutora mesmo! Mas extremamente apologética!!! E é tema do filme!!! Nada mais anormal para um filme sobre uma tropa de elite que nao questiona sua propria condição de elite. O policiais do BOPE soh podem ser « os melhores » porque existem os « loosers » da PM e das policiais convencionais. Como ser uma tropa de elite para todos os habitantes ? Nao dah !!! Entao tudo vira um circulo vicioso moralista que se autoreproduz e se autolouva como salvador mas nao pode salvar nada porque é elite – e que soh existe pq tem q existir uma « mediocridade » para ela se diferenciar do « resto ». A elite precisa do mediocre. Mas o « resto » ainda continua existindo e – mais grave ainda – nao pode acabar.

Confesso que essa impressão sobre o filme se tornou mais concreta a partir das diversas vezes q vi o filme e, especialmente, a partir da comparaçao com o livro « Elite da tropa », no qual o filme se baseia. O livro divide-se em duas partes. Na primeira um policial fala da realidade do BOPE,d o curso, de sua identidade ligada ao moralismo anticorrupto, ao uso da violencia, etc. Na segunda parte hà uma situaçao parecida – soh um pouco – com a do filme, no qual varios vetores sociais levam a um climax no qual o livro parece nao dar saida ! Ao final do livro tem-se a sensaçao de: “fudeu, nao hà saida! Todo mundo ganha com a violencia!” No livro os politicos aparecem de forma mais clara e decisiva. Cidadãos comuns sao mostrados de forma menos polarizadas e as realidades legais e ilegais sao confudiveis. Da uma sensaçao angustiosa terminar o livro: parece que nao ha saida para a sociedade. Ao menos o filme consegue sair desse enrijecimento niilista. Mas sua saida é por demais apologetica ao BOPE.



Mas aquele que foi mais tripudiado no filme nao foi paradoxo, a ambiguidade… nao ! Foi o filosofo Michel Foucault (1926-1984). Tudo bem, o filme não tem obrigação nenhuma de dar aula sobre Foucault ; mas deu pena a forma como ele foi tratado, rasgado, simplificado, inclusive pelo professor de Sociologia que aparece na sala de aula. Foucault é lido pela aluna e pelo professor como mais um impostor e legitimador das formas de poder. Mas todo seu trabalho caminha em direçao diferente : ele questiona os usos do poder e como o poder se legitima nao soh pela violencia, mas pelo convencimento, pela seduçao. Seu estudo sobre o poder dah um passo a frente na compreensao de realidades menos claras, menores e/ou aparentemente menos ofensivas, mas nem por isso menos objetivas. Para ele, o poder não é considerado como algo que o indivíduo cede a um soberano (concepção contratual jurídico-política), mas sim como uma relação de forças. Ao ser relação, o poder está em todas as partes, uma pessoa está atravessada por relações de poder, não pode ser considerada independente delas. Para Foucault, o poder não somente reprime, mas também produz efeitos de verdade e saber, constituindo verdades, práticas e subjetividades. Foucault seria um otimo referencial para se pensar a violencia e suas formas de seduçao na sociedade, constituidoras de verdades e saberes, mas eh menosprezado. Alias o policial destroi o filosofo. E destroe-o simplificando-o, tolhendo-o, torturando-o. Curiosamente a aluna que disse para o policial-estudante “nohs ficamos com o Foucault” (se referindo ao trabalho de grupo que eles fariam) foi a que morreu com um balaço na cabeça. E foda-se Foucault. Pobre Foucault.

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