mardi 20 novembre 2007

Queda da Bastilha

Diante das constantes paralisaçôes que a Terra da Baguete vem sofrendo, resolvemos fazer a nossa parte e integrar o movimento dos bagueteiros. Para quem nao sabe, os ferroviarios e os funcionarios publicos estao em greve na Terra da Baguete contra as politicas jah mencionadas de nosso querido amigo Sarkô. Entao partimos em direçâo ao movimento, doidos para presenciar in loco mais uma Revoluçâo Francesa com dois seculos de atraso.

Ficamos sabendo pela radio de boatos da Maison du Bresil que haveria uma passeata da Place da Bastilha até a Place de la Republique. Sem mais delongas, colocamos nossas roupas de esquimos tropicas e partimos em direçao aos populares. Fomos eu, Marco, André e Flàvio. As mulheres se negaram a ir, o que jah seria um pressàgio do afeto feminino que ignoramos com o ditado "revoluçâo é para macho, porra!". De fato, foi uma caminhada longa, jah que o metro estava em greve!!! Sem se abalar continuamos "caminhando contra o vento" (frio) de outono parisiense... Tudo bem! Melhor o frio de Paris ao bafo de Tribobo. O dia estava ensolarado e tudo parecia que ia bem...

Ou talvez nâo...

Sem nos dar conta do frio que nos esperava, nao prestamos atençâo nos pressàgios ingênuos que nos cercavam... Nâo mais que de repente um bueiro de metro (daqueles que sair ar do trem subterrâneo) me chama a atençâo. Estava quase em cima dele, gostando daquele ar quente, quando percebi que nao era o unico que sentia-se aquecido com aquela doce brisa tropical. Pombos, esses "ratos com asas" (como assim denominou um professor meu), estavam mantendo suas necesidades vitais em cime do bueiro. Diante da minha presença, foram incapazes de se assustar tamanha a letargia de seus sentidos vitais jah em delirio. Pude entao comprovar esse fato insolito para voces.


Sem se abalar, serelepes, continuamos nosso caminho em direçâo passado! Ver os policiais, que aqui nao batem soh em pobres e sâo mais democraticos na pancadaria, nos fez sorrir de alegria, afinal... estavamos no caminho certo!

Durante o caminho para a Bastilha, vimos que Paris, além de ser a cidade dos apaixonados, também é a cidade dos compositores. Do rio (Ayrton) Sena ateh a Place de la Bastille hà um bonito canal que corta Paris ateh o Norte. Neste canal hà uma marina, com barcos grandes e pequenos, lugar muito inspirador pela sua beleza! Verificamos in loco o lugar exato onde Caymmi estava quando se inspirou para compor uma de suas mais belas cançôes:

"Ma-rina, mo-rena, Ma-rina, vo-cê se pin-tou"


Mais adiante ignoramos mais um pressàgio pombal. Um pombo enlouquecido com as politicas de Sarkosy tentou se suicidar na nossa frente: negando sua nacionalidade francesa, disse-nos que a Terra da Baguete jah nao era mais a mesma desde os tempos do Corcunda de Notre Dame... Queria mudar de patria, mas tinha medo do nacionalismo de Sarkô... Resolveu se suicidar fazendodos restos de um fast-food americano sua ultima ceia... Nâo foi sem doh que presenciamos os ultimos momentos de nosso amiguinho.
O alvo era a Place de la Bastille, que quando chegamos nao havia nada de anormal... a nao ser o frio. Apesar do bonito dia, nao se enganem: o frio era da cata-corno! Resolvemos ir ateh a Place de la Republique e fazer a proxima revoluçao contra o primeiro que olhasse torto para gente! Caminhando contra o vento, começamos a nos cobrir com todo pedaço de tecido que havia. A mâo congelava, e os revolucionàrios nem davam o ar da graça. Cada loja que entravamos era um alivio por causa do aquecimento!!! ahhhhhhhhhhhhhhhh

Nosso amigo Flavio estava cada vez mais ridiculo com sua modesta roupa araraquara "fashion". Com um capuz infame, ele parecia mais um espermetozoide, ou, como preferimos chamà-lo a partir de entao: GOZO-MAN ou HOMEM-PORRA!

Para nao humilhar nosso colega resolvemos envià-lo em uma missao espacial em pedido de ajuda. Nosso presidente André (sério, por incrivel que parece ele foi eleito pres. do Comitê de Residentes de la Maison du Bresil) resolveu enviar o GOZO-MAN ao espaço quando este solicitou a entrada em um dos projeteis espaciais espalhados por Paris.
Na verdade GOZO-MAN entrou no banheiro publico, que alem de auto-lipante e ultra mUderno!

Conclusão: nunca estah frio o suficiente para barrar os realmente revolucionàrios. Especialmente agora que jà temos um heroi com H maiusculo...... o Homem-PORRA!!!

lundi 12 novembre 2007

Croissant, francês, baguete, sonho e bisnaga!!!

Em homenagem a toda a familia da padaria (Croissant, francês, baguete, sonho e bisnaga)... uma baguete de lata!!!

Amigos!!!


Amigos!!! Sem os quais os dias seriam bem mais dificeis na terra de Alain Prost!

Um falo de lata!


Nâo sei porque as sociedades constroem seus monumentos para cima, como que a querer estuprar o céu? O World Trade Center era muito isso... O monumento dos mortos da Segunda Guerra no RJ também é assim!!! O Arco da Derrota... Até mesmo as igrejas sâo assim na sua tentativa de chegar a deus com suas torres fàlicas! Se a Notre Dame é enorme hoje, imagina na época medieval... Ai como era grande!!!

Mineiros no comicio de Segolene Royal!!! ... Uai!!!


Este eh o Estadio de Charlety, que fica do lado aqui da Maison du Bresil. Reza a lenda que o Brasil jah jogou nesse estadio num amistoso preparatorio da Copa 98, num daqueles jogos inuteis contra o XV de Piracicaba local. Nesse dia estava rolando uma feira de quinquilarias (a unica coisa q nao é velha é o cara de vermelho!). Meu amigo André contou-me que, durante as eleiçôes passadas houve aih um comicio da Segolene Royal que a policia fechou o portâo nao deixando ninguem entrar e baixou a porrada em geral. Nossos amigos mineiros presidente André e primeiro-secretario Pery, vulgos Bob Pai e Bob Filho, foram obrigados a pular o portâo para ver aquela caridosa figura. Deveria ter falado pro André: "seuçosseocê" (-seu eu fosse você- na lingua mineirês, uai!) jogaria um frasco de desodorante vencido nos policiais.
Obviamente, nâo se trata de violência, mas de uma experiencia antropologica!
"Seoceçosse eu" nâo faria a mesma coisa???

Paqueta em Paris


Lembro dos parcos feriados que visitei Paquetà e là andei de bicicleta! Pois é... aqui em Paris elas também existem! Mas hà um limite de 30min. para andar e entregà-las em alguns dos outros milhares de pontos da cidade. Paga-se €30 anualmente ou €3,00 por saida. Quase todo quarteirâo tem um ponto de VELIB, essas simpàticas magrelas!

Torre Eiffel de Piz(z)a


Essa foto foi tirada segundos antes da famosa torre de latâo cair na minha cabeça. Ela jah vinha tombando hà algumas horas quando, nâo mais que de repente, tropeçou no Arco da Derrota e matou este que vos fala!

jeudi 8 novembre 2007

Moyen âge

Moyen âge


ou

uma época em que todos eram de Meia Idade



Depois de algum tempo de silencio volto a manifestar-me aqui da Terra da Baguete. Primeiramente gostaria de manifestar meu desagrado em relaçâo aos contantes deboches que alguns de vcs subdesenvolvidos tem feito com relaçâo ao nome deste blog. Repito, estou na Terra da Baguete, sem nenhuma conataçâo sexual. Vocês soh pensam em sacanagem aih !!! Acho que eh o calor que estimula seus hormonios indigenas e antropofagicos. Eu aqui venho sofrendo de abstinencia hormonal desde que a temperatura caiu afastando meus desejos mais indigenas…Devido ao imenso tempo desde meu ultimo contato tenho muito a contar. De fato, comecei a investir meu tempo no estudo do povo do desodorante vencido. Alias, diga-se de passagem, aqui na França tem um desodorante que tem prazo de validade de 72 horas, segundo o fabricante. Hahaha !!! Sério mesmo ! Estou pensando em fazer essa experiencia antropologica com esse fenomenal produto . Claro, tudo em nome da ciência e do capital em mim investido por vcs e pelo grande cacique Lula.





Mas antes disso, resolvi me aprofundar nos antecedentes do mal cheiro, e cheguei na Idade Média. Convidado por amigos, alguns dos quais vacilôes que deram para tràs na ultima hora, fui para uma cidade medieval chamada PROVINS, que fica a uns 100km de Paris. Uma das primeiras coisas que percebi em meio aos castelos, muralhas e torres foi que as crianças aqui na ZOROPA tem outra infancia. Deve ser facinante ouvir as historias de fadas, castelos, cavaleiros, servos e senhores, tendo ao seul ado livros e cenarios que dão conta dessa realidade. A infancia aqui deve ser realmente outra. Subir na torre de guarda, que tb foi prisao, entrar no quarto do governador, foi fantastico. Soh eh pena que tudo seja muito limpo, muito cheiroso, e com certeza nao era assim na epoca. Mas jah estou eu falando atraves dos narizes franceses.



Provins foi uma cidade medieval muito importante entre 1100 e 1300 + ou -. Era uma cidade na rota de Champagne, nome do atual « Estado » no qual ela se situa. Ou seja, para chegar a Provins tive que sair de «Île-de-France », onde se situa Paris, e ir para o « Estado » vizinho de Champagne. Pois eh ! Alias, viajar na ZOROPA eh barato, como jah disse em outro post, desde que nao seja para perto, como foi o caso de Provins. Gastei uns €30,00 para ir e voltar. Com essa grana dah pra ir ateh Atenas em março. Estou pensando seriamente em ir lah comprar um presente de grego para alguns de vcs! Ha ! Mas to pesquisando tb uma ida ao Egito, acho que nao deve ser muito caro ! Mas dizia eu que Provins era uma cidade muito importante, pois estava na rota commercial que levava produtos das cidades italianas até Flandres, atual Holanda. Todas as cidades na rota desenvolveram seu comercio , seu artesanato. Em Provins de 1200 vc poderia encontrar todos os produtos do mundo entao conhecido: grãos do Egito e da Sicilia, ferro da Alsàcia, tecidos da Holanda, azeitonas da Grécia. Havia no meio da praça central uma igreja toda branca por dentro, onde a Joana D’arc em pessoa teria passado dizendo que viu Deus e que ele a disse para salvar os franceses. Eh, pois é… e depois o louco é o bispo Macedo.



A cidade estava vazia, dava a impressão de que a epoca de turismo havia passado, poucas pessoas na rua, muita coisa fechada, muito frio na vielas ! Mas foi muito legal. Visitamos umas cavernas de onde eram retiradas uma especie de oleo para tornar as roupas mais resistentes ao frio. Pena que nao dava para tirar fotos das cavernas. De qualquer forma fiquei fascinado nao soh com as reminicencias medievais : durante o caminho entendi porque os exercitos medievais sempre se encontram num campo de batalha plano, sem mata, um terreno como que a esperar pela carnificina. Todo o caminho de Paris ate Provins era assim, e acho que grande parte da Europa também. As matas aqui sao bosques, tao famosos na terra de Robin Hood, « al otro lado de la mancha ». Provins mesmo eh uma cidade pequena, especialmente a cidade historica. A parte « muderna » nao e tao grande, mas tinha uma industria de nao sei o quê que deixava o arc om cheiro de pão. A volta levou uma hora e meia ateh Paris, de trem, que nos deixou na Gare de l’est.



Um final de semana de pobre em Paris



O ultimo domingo passado foi o primeiro domingo do mês de novembro. E como aqui na Terra da Baguette todo primeiro domingo de cada mês os museus sao de graça, resolvemos excercer nosso direito de pobre e partir pra dentro (do museu, para os maliciosos). Acho que esse deve ser o capitulo um do livro PPP (Paris para Pobres). Tem fila, lotaçao maxima, fura-filas cara de pau, figuraça metido a inteligente olhando quadro que tem em toda coletania de arte desde que o mundo eh mundo e, para estragar tudo, muito brasileiro. E brasileiro fora da tribo eh pior do que dentro. Nada mais pobre. Entao partimos sem medo, jah maliciosos e espertos tanto quanto possivel, especialmente depois de experiencias de piquenique em Paquetà. Mas esqueci meu almoço, o que nos trouxe algum contratempo.Partimos por volta das 9h, eu, Marco, Renata, Carol e o Luis. Nosso plano era fugir do Louvre, pois as filas prometiam ser gigantescas e todo mundo se cansa nesse museu. Decidimos entao começar pelo Museu Medieval. Legal. Mas comecei a ficar enfastiado jah no começo. Confesso que nao sou muito de museu. Sou um historiador que nao tenho nehum interesse por museus… Logo depois fomos ao Museu d’Orsay, que muita gente prefere ao Louvre, especialmente pelos quadros impressionistas… mas que nao me impressionaram muito. Bem… eles sao legais, claro, mas nada de melhor das diversas reproducoes existentes em coletaneas de arte. Parece que as pessoas soh vao a esses museus para reafirmar esse gosto. Sao bonitos, mas soh. Mas a cidade e tao mais viva que os museus. Alias me sinto meio como que em meio a um necrotério num museu. Nao entendo pq é aconselhavel a se falar em voz baixa dentro de um museu ; as pessoas cochicham impressoes imprecisas sobre impressionistas impressionantes olhando precisamente a preciosa pincelada do pintor postumo, como que a admirar seu mais novo cadaver. PQP!!!O tom de silencio e a aura do ambiente soh contribuem para essa falta de vida dos museus. Alias todo museu eh morto. Sinto falta da cultura viva, pois no museu soh vejo carcassas expostas como num açougue. Nao que as peças nao sejam bonitas, mas falta alguma coisa. Acho dificil analisar a criatura sem seu processo de criaçao, sua construçao de hegemonia, sua imposiçao como padrao de arte, etc… acho complicado analisar pedaços de arte, tanto quanto acho impossivel verificar a qualidade estetica de um musico a partir de uma musica e nao de um LP ou CD. E no Orsay tem de tudo : estatuas, fotos, desenhos, pastel, pinturas, maquetes, moveis… Sei lah, muito estranho… Parece que tem do alfinete a bomba atomica!!! A rua eh tao mais viva que fiquei culpado de passar o dia no museu num dia de sol, que cada vez se torna mais raro. O museu soh tem a arte que jah foi e isso eh o que menos me interessa. Van Gogh nao sabe o que o fez ser VanGogh. Para ser VanGogh outro pintor terà que chutar o balde do Van Gogh… Talvez terà que cortar outra coisa….


Alias o Orsay jà foi uma antiga estação de trem. Confiram o antes e o depois:






















____________________________________________________






Uma baguete atômica






Por falar em Bomba Atomica outro dia me aconteceu um episodio que poderia ter sido a suprema experiencia antropologica, mas que devido q incompetencia deste que vos fala, nao aconteceu. Estava eu indo para minha conversaçao de frances que faço de vez em quando nos fundos da igreja Saint German de Près. De repente, quase em frente a igreja um grupo armado de microfones e camera de filmar me perguntam se eu poderia dar a opiniao de um frances sobre as usinas nuclares francesas para a tv americana !!! Por misésimos de segundos meu Homer Simpson veio a tona. Agora era a hora de abrir o bico contra as industrias nucleares. Mas o que falar ? O que dizer ? Nao sabia nada sobre o programa nuclear frances !




Apenas sabia que a maior parte da eletricidade francesa proveem de usinas nucleares, e que os americanos fizeram testes em suas colonias da Polinesia, no oceano Pacifico. Na decada de 40 um destes testes ficou famoso e o lugar onde ele aconteceu deu nome a moda daquela época que, graças ao bom deus, veio para ficar : o bikini. Eh serio ! Entre 1946 e 1970 o Tio Sem Noçao explodiu mais de vinte bombas no atol. Vivendo e aprendendo… Resta agora saber de onde vem palavras como canga, maiô, sunga, e outras que deixo a vcs desocupados! Em outra vida mediocre estive lah e tirei a foto acima milésimos antes de morrer atingido por um bikini voador que me dacapitou com sua velocidade atômica.


De qualquer forma meu cérebro de Homer Simpson nao foi capaz de projetar nenhuma critica e me vi coagido a dizer que era brasileiro. Entao minha opiniao de indio foi prontamente renegada, embora gentilmente, pela televisao americana.


Entao cheguei em casa disposto a uma pesquisa atomica. Pena que foi um pouco tarde e que minha bolsa nao cubra esses custos. Tenho certeza que se o Enéas tivesse vivo e presidente (56!) eu teria ganho um extra para inicià-los no mundo atomico da Terra da Baguette. Antes tarde e pobre do que nunca, vamos lah !Proporcionalmente a França eh o pais que mais depende da energia atomica no mundo inteiro. Hoje 80% da energia francesa vem das usinas nucleares!!! Sei que você ecologista odiou essa noticia. Mas pense bem, para que a baguete fique quentinha eh preciso explodir uns atomozinhos de vez em quando, nao é ? Esses bagueteiros…





Mas o primeiro pais a dominar a energia atomica e construir uma usina foi a URSS. Eh por essas e outra que a URSS jah foi tarde ! De qualquer forma a terra da vodka instalou seu primeiro reator nuclear em 27 de junho de 1954, numa cidadezinha pacata chamada Obninsk, a 100km ao sudoeste de Moscou. Na foto acima a central de Obnisk.


Enciumados, os bagueteiros resolveram mostrar que tinham o piru maior que os cachaceiros de vodka (desculpe o termo mas a Guerra Fria foi uma masturbação econômica dos 2 lados) e construiram a segunda usina nuclear do mundo, a Marcoule, às margens Rodano, perto da Côte D’azur. Eh impressionante como essa galera gosta do perigo de destruir paraisos. Eh quase um fetiche pela maçã… De qualquer forma, em 7 de janeiro de 1956 os bagueteiros estrearam na onda da guerra fria dizendo : « foram eles que começaram primeiro, mãe ! » . A culpa sempre eh do vizinho... A terra da baguete foi o primeiro pais capitalista a ter usinas nucleares!!! Antes mesmo da Inglaterra, que soh no final daquele ano começou as atividades nucleares em Sellafield, e dos EUA, que soh iniciou-se no mundo das usinas nucleares soh no ano seguinte com a ativaçao do reator de Shippingport!


Ameaçados pela genitàlia alheia os bagueteiros nâo perderam tempo e inauguraram sua segunda usina em 1957, a de Chinon, as margens do rio Loire. Os franceses garantiam assim que, apesar do biquinho, eram machos mesmo e tinham mais piru do que todo o resto do mundo, mesmo no Bloco Capitalista. Desde entao a Terra da Baguete construiu mais de 58 reatores em 19 usinas espalhadas pelo pais. O numero de usinas aumentou consideravelmente apos as crises do petroleo durante a decada de 70 e foi crescendo até a decada de 90. Assim a França substituiu sua fonte de energia, tornando-se uma potencia em exploraçao de energia suja e extremamente poluente.


E o que se faz com os residuos ? Nada me convence que valha a pena apostar nessa tecnologia, a nao ser que o meu proximo baguete esfrie ou nao cozinhe direito.


A maior destas usinas eh a de Paluel, que fica no norte da França, proximo ao Canal da Mancha, Ela utiliza o mar para resfriar o reator, de forma identica a Angra I e II. Lah trabalham mais de 1500 pessoas. Seus quatro reatores demoraram 9 anos p serem construidos, entre 1977 e 1986. Resta saber se as aguas ao redor da usina sao aquecidas pelo resfriamento do reator, como acontece em Angra, onde algumas praias proximas tiveram sua temperatura aumentada !!! Não consegui uma foto de usina de Paluel, mas garanto que ela eh bem parecida com a Usina de Gravelines, embaixo na foto. Reparem que esse tipo de usina nâo tem a tal "chaminé"!Uma coisa percebi durante essa pesquisa. As usinas nucleares sâo de 2 tipos basicos : aquelas que resfriam o reator com agua de rio e com agua do mar. Ambas precisam estar perto de uma fonte de agua perene para resfriar-se e controlar o processo de fissao atomica. As primeiras sao talvez as mais conhecidas e tem aquela estrutura visivel e gigantesca que parece a boca de uma chamine enorme, de cimento, jogando vapor para cima. Eh aquele modelo classico que està na Springfield dos Simpsons ! A maior parte das usinas da França são assim. Confira nas fotos vàrias delas:




































O coraçâo da usina, o reator, nâo é a construçao grande, mas o prédio menor ao lado!!!





No caso da usina nuclear a beira do mar a chaminé nao é necessaria pois parece ser facil jogar a agua utilizada no mar sem a necessidade de resfria-la muito pois o proprio mar pode, aparentemente, se encarregar disso. Por isso as usinas nucleares a beira do mar nao têm a tal chaminé e apresentam como maior construçao somente o predio do reator, que eh relativamente pequeno. Veja como a usina de Gravelines é muito parecida com a nossa Angra I e II (foto abaixo).








Nao posso deixar de afirmar que a falta da chaminé me causou uma frustraçao no dia em q vi a usina de Angra pela primeira vez ha pouco tempo atras. Se eh para ter uma usina e acabar com o mundo a longo prazo, antes tivessemos um piru maior que o dos outros, né?




Bem amigos indios, aqui acabo meu relatorio sobre esse povo nuclear que, segundo prognosticos por mim esboçados ao ver anotaçoes secretas de Nostradamus, corre serios riscos de mutaçoes num futuro proximo.




Alias, como bom agente de nossa tribo infiltrado em terra do desodorante vencido sinto-me obrigado a reportar que os bagueteiros possuem armas de destruiçao em massa capazes de destruir o mundo algumas trocentas de vezes… Sei que isso é inutil, mas faz bem para o ego deles ! Prova que eles sao mais picudos e pegariam qualquer « mulé » com ou sem desodorante 72h dentro da data de validade ! Resta esperar que o Bush enforque o Sarkozy como fez com o Saddam quando "descobriu" que ele tinha armas de brinquedo de destruiçâo em massa! Aquele abraço mutante pra quem fica,





Gustavo






ps.: confiram a quantidade de usinas nuclares do mundo!!!



















mercredi 7 novembre 2007

E o Foucault se foucault…



Hà muito tempo vinha me esquivando dos debates sobre o filme « Tropa de Elite », mas depois de tê-lo visto 3 vezes acho que posso dar algum pitaco . Aliàs, tenho que me desculpar aos queridos indigenas do Brasil, vcs, por ter simplesmente jogado um comentario sobre o filme em um post anterior sem ao menos comentà-lo com mais propriedade . O filme merece mais que uma nota de rodapé.







De fato é curioso que eu sinta vontade de escrever sobre ele daqui da terra da baguete, um pais aparentemente (e soh aparentemente) inofensivo, incapaz de ganhar uma guerra contra outro pais de peso. Sobre eles ainda pesa o destino de terem sido derrotados pelos alemães em 1870 e na Segunda Guerra Mundial, quando a tropa de elite do Hitler conquistou toda a terra da baguete e obrigou todos seus habitantes a comerem chucrute apimentado…



Nem imperialistas eles conseguem ser direito, coitados, e nao por dever moral (o que seria bom), mas por incopetencia bèlica… Lembremos da derrota militar em Dien Bien Phu, no Vietnã, em 1954, que levou a independencia daquele pais… logo retardada pelo amiguinho EUA, que quase sempre tem uma postura igual aquele gordo dono da bola que nunca deixava ninguem jogar futebol com sua pelota. Aparentemente Tio Sam nao queria que os vietnamitas brincassem com a bola dele – o mundo -. Não custa lembrar tb que a França foi derrotada pelos argelinos em 1962, ano da independencia da Argelia. Enfim, a terra da baguette é uma terra de derrotados, “losers”, como diriam os donos da bola.
Pois bem, é nesse espirito derrotista dos bagueteiros que me posiciono frente a este filme. Eh atraves dessa lente loser que venho dar o meu pitaco. Mas apesar de inutil, meu discurso tem grandes pretensões, de fato nao posso negà-las. Nao posso deixar de me ver um pouco parecido com o rato mestre do desenho Pink e Cérebro. Também quero conquistar o mundo, mas o problema eh que meu Pink é muito maior do que meu Cérebro. Se o cérebro esta preocupado com a necessidade de mudança, o pink jah està em outro plano. Se o cérebro quer conquistar o mundo para depois mudà-lo o pink quer outro cérebro jah. Se a fala do cérebro protesta contra as condiçoes desumanas a que nos indios somos submetidos, o pink jah olha nosso orgasmo diario de todo dia (e isso nao é um pleonasmo). Se o cérebro requisita o bàsico, o pink nao quer apenas um salario minimo de desejos. Nao quero soh uma sociedade mediocre se vendo retratada . Nao quero um cinema que me prenda pela correria em tensao sem corresponder com igual desejo aos meus afetos mais intimos, alias tripudiando deles, colocando tudo em « panos limpos », preto no branco. Enfim, meu cérebro é rosa (espero que isso nao ofenda meus amigos machos e/ou vermelhos). Quero inteiro e nao pela metade. Como jah dizia a canção :


"Você tem sede de quê?

Você tem fome de quê?(…)
A gente não quer só dinheiro,
A gente quer inteiro e não pela metade "
("Comida" - Titãs – LP « Jesus nao tem dentes no pais dos banguelas », de 1987)


Tendo jah dito de onde parto para expressar meu ponto de vista, ou seja meu cérebro rosado e loser, venho expressar minha opinião. E para aqueles que me acharem um « fanfarrão », tal qual as palavras do Capitão Nascimento, defenderei meu ponto de vista como vàlido (e ateh melhor), apesar de toda opiniao quase sempre naufragar na indiferença alheia. E para os malas que julgarem que tudo eh relativo, que todas as opiniões são validas, que tudo depende do referencial, lembrarei que, no trânsito, a preferência é de quem vem...

Então eu vou… e como jah disse o Capitão Nascimento : « Não vai subir ninguém, não vai subir ninguém ! Vai ficar todo mundo aih quietinho ! Nao vai subir ninguém ! »

Engraçado, jah ouvi essa frase em algum momento da minha infancia quando um dono de bola disse para também nao usar o velocipede dele…

Enfim, o filme eh muito bem feito, o Moura eh foda! Concordo com tudo isso! Ele eh dinamico, bem construido, bem montado, bem editado, especialmente para um leigo como eu. Mas nao quero falar do filme. Justamente porque nao gusto do tom através do qual o filme vem sendo discutido em nossa tribo. Tenho que confessar que vi o filme pela primeira vez através dos meandros da pirataria. Alias , muito antes do falatorio, uns 2 meses antes do filme ser lançado, estava eu no camelodromo do Saara no RJ. De repente vejo uma televisao passando justamente o trecho inicial do filme, a parte do “nao vai subir ninguém”. Vi que algumas figuras paravam e ficavam seduzidas pela dinamica do filme, pela beleza (sei lah se essa eh a palavra, com certeza nao) daquelas imagens. Um sujeito amigo do dono da banca disse algo como : « esse filme nao eh americano nao, eh brasileiro. Tem até o Olavo da novela ali, oh!”. Foi dificil reconhecer o ator, tamanha sua habilidade no video. Impressionante como um esmirrado nordestino, quase feio, parece forte e dominador como o Capitao Nascimento. Quando olhei melhor a minha volta percebi que quase todas as bancas do camelodromo passavam o msm filme. Tratava-se do hit do mercado parelelo. Evitei. Nao gostei do tom geral, um consenso unanime, de que o filme parecia “americano”. No dia seguinte, visitando o mesmo Saara, comprei-o, concretizando minha esquizofrenia politica em relaçao ao povo “winner”. Em casa percebi, ao lado da Raquel Mu, que o povão nao estava de todo errado.

O filme parece muito americano, no sentido de ser justiceiro, destemido, violento, ràpido, impactante, te prende do inicio ao fim, eh dinamico. Em alguns momentos parece ateh filme do Schwarzeneger ou do Rambo, especialmente naquela invasão na qual os policiais do BOPE matam um vapor! Eh... soh espero que daqui a alguns anos o Wagner Moura nao se candidate a governador do Estado do Rio!!!


Eh curioso como essa estética da velocidade de camera, takes e closes està se impondo na cinegrafia sobre violencia urbana no Brasil. A malha narrativa de "Tropa" me lembrou muito o “Cidade de Deus”: hà uma situaçao critica exposta num primeiro momento e depois o filme tenta explicar como se chegou a ela. Se visse tamanho plàgio, acho que o traficante de "Cité de Dieu" gritaria : "Nascimento é o caralho, meu nome é Zé Pequeno, PORRA!!!"

Um mês mais tarde, em meio a atividades de greve dos professores do ESTADO, resolvi passar o filme para meus alunos, ateh para que eu pudesse fazer experiencia antropologica com a visao deles. Constatei a primeira vista q quase todos jah tinham visto o filme. Varios mais de tres vezes, alguns 15, 18 vezes. Serio msm ! O filme era uma febre. Todos achavam foda, sem nenhuma critica aparente. Gostavam do filme, especialmente os mais jovens (lembro a vcs q dei aula a senhores de meia idade tb). Explicavam a seduçao do filme por ele retratar a verdade da favela, do morro, falando num tom como que a me dar uma aula sobre a realidade brasileira. Confesso que nao gosto desse tipo de discurso, ateh porque ele eh muito parecido com os discursos de minha classe social, tao demonstrados no filme. Mas meus pobres alunos se aproximaram do discurso da classe media na critica aos policiais. Culparam a policia por todos os males, incorporando o discuso de Nascimento, como se todos ali não estivéssemos cometendo um crime – o de ver um DVD pirata. Como se todos fossem corretissimos enquanto alunos do serviço publico, tao publico quando a policia.

O que desgostei muito no filme foi que ele tenta impor uma realidade de guerra civil, algo jah tão batido nos debates sobre violencia. Pelo jeito esse discurso serve tanto àqueles que lutam para acabar com ela, tanto quanto àqueles que fogem dela e àqueles que querem louvà-la… Penso que o filme contribui para o embrutecimento da sociedade brasileira que cada dia eh mais claro. Nao quero dizer com isso que o diretor e/ou o filme sao fascistas. Essa coisa de querer tachar obras de arte de isso ou aquilo eh que eh fascista! Nao vou dizer que alguém eh fascista e simplesmente dar de graça o filme,ou melhor uma obra de arte, qq que seja, a um partido ou grupo politico. Luto para que toda obra de arte tenha infinitos significados. Acho inclusive que o diretor quiz fazer uma critica ao BOPE e a violencia policial+hipocrisia da sociedade. O problema eh que ele nao tem sido visto assim, a despeito das opinioes do diretor e dos atores. (vejam a opiniao do W. Moura em: http://www.youtube.com/watch?v=UD_ERanDdBA)

Se o director tem defendido o filme contra acusaçoes de fascista, penso que o problema nao eh o filme em si, mas a propria leitura da sociedade que cada vez mais se aproxima de algumas caracteristicas fascistas. O consenso quase geral eh que a violencia eh necessaria para se acabar com a violencia. E aih sobram argumentos a favor de violencias contra « os que nao tem mais jeito » , como estupradores, assassinos em serie, narcotraficantes. Essa semana tive uma conversa aqui na Maison em que o tom pesou no sentido da violencia total. Vi mais uma vez se formando o embrutecimento da sociedade. E tome aquele discurso : « eu queria ver se fosse sua filha ! Estuprador, assassino, traficante tem q morrer. Eu mataria quem estrupasse minha filha». Confesso que acho esse discurso uma bravata : se assim todos fizessem o mundo jah teria acabado: um mataria o outro que matou o um que matou o outro... Tentei argumentar e defender (!) o legado da sociedade capitalista ( !) de crença na pedagogia como restaurador do homem e fui acusado de utopico. Vejam vcs, por defender um principio da Revoluçao Francesa, do iluminismo frances e do capitalismo, contra uma visao punitiva de cadeia fui visto como utopico. Cadeia tornou-se porão onde se esquece os prisioneiros, abandona-os a propria sorte ! Eh a volta dos porões dos castelos medievais, abandono de qualquer perspectiva de recuperação social. Vejam vocês, fui tachado de idealista por defender o capitalismo e das revoluções burguesas! A que ponto chegamos!!!
Acho que a Maison du Bresil eh um antro da contra-revoluçao francesa! Hahaha !!! Como diria o Capitao Nascimento, sou um « fanfarräo » !

Alias toda vez que falo Nascimento lembro do Didi Mocoh chamando Pelé de Nascimento naquele filme “Os trapalhoes e o rei do futebol” (1986), no qual Pelé vai pro gol e Didi bate escanteio e faz o gol de cabeça ao msm tempo, hahah. Se Pelé nunca foi capitao, seus suditos estao cada vez mais autoritarios e esperando uma soluçao, as vezes sedutora e justiceira, quase sempre lastreada no rancor.

Nao acho contudo que a leitura pela qual o filme tem sido visto tenha algo de contraditorio com a propria historia do filme. Pelo contrario. Algumas vezes vi o diretor e defensores do filme argumentando q o filme eh o ponto de vista de um policial, o que legitimaria a existencia de seu discurso autoritario, moralista, justiceiro, honesto, trabalhador, técnico (matar com eficiencia), torturador. De fato, muitos viram o filme assim, como uma nova visao de um policial sobre a questao da violencia : se « Cidade de Deus » trouxe a historia do traficante, « Cidade dos Homens » a visao dos favelados, « Tropa de Elite » traria a visao da policia. Eh um bom argumento. Mas nao acho que o filme traga apenas o ponto de vista do policial. E por isso ele foi tão bem recebido : ele expressa valores bastante legitimados na sociedade – a violencia como soluçao, o « vale-tudo » para punir exemplarmente os « puniveis », o moralismo contra « maconheiros » e classe média hipocrita.

Mas o filme nao traz somente a perspectiva do policial. Não. Eh um filme com narrador, mas nao em primeira pessoa. Ele eh um narrador onisciente, que sabe quase tudo ao seu redor. Nascimento conhece a fundo seus iniciados mesmo antes deles entrarem na corporaçao. Ele expressa sentimentos, faz considerações sobre afetos e sentimentos. E se o filme fala muito da policia, ele fala através de um viés muito moralista : para glorificar o BOPE, toda a policia é desmoralizada. Nao duvido que a PM seja corrupta, alias duvido que ela nao seja. Através de conversas com conhecidos policiais, ouvi jah palavras como « nao dah pra nao ser corrupto, se vc nao entrar no sistema eh apagado » . Pois é, a barra é pesada ! Eh diferente de ser um professor « chato » que quer trabalhar e o màximo que acontece com ele é ser mal visto pelo outros profs. No caso do policial o mau olhado é o tiro que mata. Por isso discordo do discurso q enxerga na policia dois lados: uma banda podre e uma boa. Acho que a realidade eh mais mediada que isso e que na atual conjuntura ser honesto eh ser honesto com a sua propria sobrevivencia.

Nao quero discutir segurança publica, quero discutir cinema. O filme, para além de expressar o ponto de vista de UM policial do BOPE, legitima posturas como a tortuta, o assassinato a sangue frio, o interregatorio sem direitos, morte sem julgamento, o rancor contra os « sujos » (policiais PMs, traficantes, maconheiros e cocainômanos…). O filme louva a saida moralista e poe tudo, nas palavras de Nascimento, « na conta do papa » .

Acho ateh que o diretor quiz fazer critica a esse autoritarismo da policia, mas o processo pelo qual o filme foi construido contribuiu para a legitimaçao dessa violencia. Confesso que nao fiquei assustado com as cenas de traficantes matando, atirando, torturando. Deles jah espero isso. E acho q devem ser punidos, claro. Mas o triste eh ver uma visao policialesca tao respaldada socialmente gozar nas falas de Nascimento sem nenhuma critica ou outro discurso capaz de questionà-lo, balançar terrenos, confundir concepçoes tao arraigadas.

O filme traz uma soluçao, que eh a soluçao do tudo ou nada, do “tiro na cara” tao falado da cena final. E ao longo do filme essa soluçao foi construida através de um processo que afasta todos aqueles intermediadores sociais. Nao à toa os que morrem de forma mais brutal sao os intermediadores, justamente aqueles entre a favela e o asfalto. De fato os personagens de classe média eram hipocritas, interesseiros, consumidores de drogas… Nascimento vê neles a culpa pelos seus proprios atos, tal como aparece numa das cenas mais chocantes na qual um « estudante » tem sua cara esfregada no sangue de um traficante morto . E debocha a todo momento dos estudantes que vao ao morro. Ele constroi uma realidade sem mediadores jah que no seu discurso « soh jovem com consciencia social nao percebe que guerra é guerra ». Ou seja, ou là ou cà ! Nâo hà meio termo, e quem se atrever a se posicionar nesse meio terah um destino tragico como dos dois jovens riquinhos.

Esse negocio de botar culpa nos ricos eh uma proposta bastante sedutora. Explica-se tudo pelas « elites destruidoras do potencial do pais ». Acho que isso mais dificulta do que explica nossa condiçao enquanto sociedade. Essa visao, apesar de ter seu eixo de verdade, contribui para a ideia de que somos uma « sociedade/cidade partida », coisa que o Brasil quase nunca foi. Em nossa tribo os valores agregadores, incorporadores, mescladores sempre foram muito mais fortes que os seus opostos. A visao da « cidade partida » parece mais um discurso politico do que uma contribuiçao para se analisar uma realidade, menos sedutora – é verdade -, mas extremamente rica e paradoxal.

E o filme nao contribui para essa riqueza que as vezes embaralha o olhar e torna as coisas menos definidas. Nascimento tem uma visão clara, visao que alias ele tenta reproduzir nos seus escohidos, que têm que ser tao bons qto ele. E a visão dele eh polarizada demais, ou pelo menos a historia do filme caminha neste sentido. Se no começo o filme mostra policia e traficantes negociando, no final essa situaçâo se torna uma situaçao insustentavel. E a visao de Nascimento é a visao que se impõe – repito – quase sem critica. Talvez nao fosse tão problematico se o filme se passasse na Dinamarca, onde a tortura –espero- seja repudiada. Mas no Brasil ele nao eh lido como repudio, mas apologia.


Lembro que enquanto comprava o DVD falsificado no camelodromo do Saara vi na banca ao lado uma copia perfeita em miniatura do Caveirao sendo vendida por 50 reais!!! E deve ter mta gente q compra! Esse eh o paradoxo de que falava! Um centro de produtos falsificados e ilegais vendendo uma copia (bonita tenho q confessar) de um veiculo assassino da policia do qual mtos daquele centro comercial jah devem ter sofrido. Soube tb que durante as filmagens foram roubadas armas cenograficas durante as filmagens na favela ! Veja vc ! E os produtores denunciaram o crime… à policia.
Aliàs o paradoxo maior é o filme sobre uma policia moralista ser um sucesso de vendas do mercado negro!!! Por essa realidade o Capitão Nascimento não esperava! Fica claro que o filme eh popular pois legitima um discurso social da violencia. Fica claro que a sociedade não quer deixar de ver o filme falsificado, mas hipocritamente quer uma policia moralista, autoritaria, torturadora pois assim ela corresponderia mais à propria sociedade: cada vez mais violenta, matadora, a procura de saidas individuais. E o filme não dà conta disso. Os principais hipocritas sao de classe média-alta. Se o problema fosse soh a hipocrisia da classe média-alta seria fàcil o trabalho do Capitão!!! Mas Nascimento foi engolido pela sociedade.

Tanto eh que o filme louva o discurso moralista do BOPE que q musica tema do filme é : « Tropa de elite osso duro de roer/ Pega um pega geral/ tambem vai pegar vc ! ». Tb vai me pegar ?????????? As pessoas acham essa musica legal – e ela eh sedutora mesmo! Mas extremamente apologética!!! E é tema do filme!!! Nada mais anormal para um filme sobre uma tropa de elite que nao questiona sua propria condição de elite. O policiais do BOPE soh podem ser « os melhores » porque existem os « loosers » da PM e das policiais convencionais. Como ser uma tropa de elite para todos os habitantes ? Nao dah !!! Entao tudo vira um circulo vicioso moralista que se autoreproduz e se autolouva como salvador mas nao pode salvar nada porque é elite – e que soh existe pq tem q existir uma « mediocridade » para ela se diferenciar do « resto ». A elite precisa do mediocre. Mas o « resto » ainda continua existindo e – mais grave ainda – nao pode acabar.

Confesso que essa impressão sobre o filme se tornou mais concreta a partir das diversas vezes q vi o filme e, especialmente, a partir da comparaçao com o livro « Elite da tropa », no qual o filme se baseia. O livro divide-se em duas partes. Na primeira um policial fala da realidade do BOPE,d o curso, de sua identidade ligada ao moralismo anticorrupto, ao uso da violencia, etc. Na segunda parte hà uma situaçao parecida – soh um pouco – com a do filme, no qual varios vetores sociais levam a um climax no qual o livro parece nao dar saida ! Ao final do livro tem-se a sensaçao de: “fudeu, nao hà saida! Todo mundo ganha com a violencia!” No livro os politicos aparecem de forma mais clara e decisiva. Cidadãos comuns sao mostrados de forma menos polarizadas e as realidades legais e ilegais sao confudiveis. Da uma sensaçao angustiosa terminar o livro: parece que nao ha saida para a sociedade. Ao menos o filme consegue sair desse enrijecimento niilista. Mas sua saida é por demais apologetica ao BOPE.



Mas aquele que foi mais tripudiado no filme nao foi paradoxo, a ambiguidade… nao ! Foi o filosofo Michel Foucault (1926-1984). Tudo bem, o filme não tem obrigação nenhuma de dar aula sobre Foucault ; mas deu pena a forma como ele foi tratado, rasgado, simplificado, inclusive pelo professor de Sociologia que aparece na sala de aula. Foucault é lido pela aluna e pelo professor como mais um impostor e legitimador das formas de poder. Mas todo seu trabalho caminha em direçao diferente : ele questiona os usos do poder e como o poder se legitima nao soh pela violencia, mas pelo convencimento, pela seduçao. Seu estudo sobre o poder dah um passo a frente na compreensao de realidades menos claras, menores e/ou aparentemente menos ofensivas, mas nem por isso menos objetivas. Para ele, o poder não é considerado como algo que o indivíduo cede a um soberano (concepção contratual jurídico-política), mas sim como uma relação de forças. Ao ser relação, o poder está em todas as partes, uma pessoa está atravessada por relações de poder, não pode ser considerada independente delas. Para Foucault, o poder não somente reprime, mas também produz efeitos de verdade e saber, constituindo verdades, práticas e subjetividades. Foucault seria um otimo referencial para se pensar a violencia e suas formas de seduçao na sociedade, constituidoras de verdades e saberes, mas eh menosprezado. Alias o policial destroi o filosofo. E destroe-o simplificando-o, tolhendo-o, torturando-o. Curiosamente a aluna que disse para o policial-estudante “nohs ficamos com o Foucault” (se referindo ao trabalho de grupo que eles fariam) foi a que morreu com um balaço na cabeça. E foda-se Foucault. Pobre Foucault.